14 de fev. de 2022

Quando era mais novo

 Levou algum tempo para decidir. E mesmo agora vai ser de improviso a memória. Pelo menos, depois de mais de 24 horas, já comi alguma coisa. Já penso melhor.

Vou contar o meu lado aventureiro, sempre o fui, não sei onde o perdi,  mas foi embora, antes de ter tempo de me lembrar. Uma das primeiras aventuras,  era quando era uma criança autêntica, pois morei numa vivenda,  com os meus pais e avós, uma casa isolada no meio de um terreno, onde o meu avô era o viveiro da casa. Assim sendo todo o terreno em volta da casa,  era baldio, arvores e terreno de plantação. No meio da coragem, decidimos,  dar a volta à casa, durante a noite. Nessa hora é tudo escuro, não há luzes. Só a esperança de chegar à luz da porta de casa.

O desafio era ir o mais devagar possível. 

A minha avó mais velha. Mais destemida, se aventurou primeiro. A vemos chegar, vinda da direcção oposta, à que tinha partido. Sem grande pressa. 

Bom agora que ela chega sem lhe ter acontecido nada. Vou ser obrigado a ir.  Se ainda tivesse aparecido algum dragão, ou algum animal, agora podia me esconder. Mas não, lá vou eu. 

Virei pelo lado esquerdo da casa, por onde a minha avó havia desaparecido, até ali ainda era muito perto para sentir medo,   assim que cheguei, à plantação das videiras, que focava neste canto da casa, virei de novo à esquerda, em direcção às traseiras da casa, este percuro ainda fazia parte do percurso para a saída do terreno, que fazia todos os dias. Ainda era um lugar comum, ora passavamos em frente da taverna do meu avô.  Agora na penumbra da noite, mas ainda familiar. A meio do percurso, ao invés de seguir pelo desvio à direita,  e caminharmos na direcção do portão para a saida do terreno. Segui em frente, e passei por uma ombreira de porta, sem porta, apenas havia a ombreira, e do outro lado, era uma zonha de quintal descuidado, as traseiras da casa por assim dizer. 

Estas traseiras, apesar da escuridão era um dos locais prediletos de brincadeiras durante o dia. Longe de olhares,  e propicio, para fazernos asneiras. Passei por detrás da casa, sem grande problema, uma distância curta e rápida, até chegar à nova esquina, marcada por uma figueira, onde eu trepava, para tirar e comer muitos figos bons. 

Mas era agora que a escuridão se adensava,  do meu lado esquerdo a  parede alta da casa, que com a minha pequena estatura, parecia interminável. E extremamente alta, do outro as copas das arvores, que nasciam ao longo de uma pequena rebenceira, de onde não via o fundo. Sabia que terminava, junto de uma estrada,  mas naquela escuridão.  Nada mais era visível. Parei, respirei fundo, eu sabia, ao minimo ruído ia voar dali para fora com uma rapidez tremenda. 

Nada

Dei o primeiro passo, apenas escuto o pousar do meu pé na terra, húmida e fria, com o mexer de uma folha que eu também pisei. E começo a caminhar, olho em volta, mais na direção da rebenceira. Vou andando, até que sem nada escutar, mas com o aperto no peito a aumentar, desisto e me ponho a correr dali para fora.  Chego na esquina, abrando.  Agora em campo mais aberto. Caminho como se nada tivesse acontecido, avisto a porta da entrada. Vou todo sorridente.  

- Não tive medo de nada. Foi sempre a andar. 

Mal eles sabiam.

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